sábado, 10 de novembro de 2018

AQUELA BRANCA FACHADA! Soneto.

Sentado com o PC frontal a mim, caneca de chá de limão na mão esquerda, cigarro na mão direita, cinza no teclado, nos ouvidos auriculares e nos tímpanos"And The Waltz Goes On" de Sir Anthony Hopkins, performizado pela Johann Strauss Orchestra de Rieu, lá vão os dedos de duas mãos percorrendo as teclas deste teclado, numa dança tal como esta valsa, que entra pelo tímpano e se aloja no cérebro, dando a corpo e mente uma paz e uma musicalidade calmas o suficientes para, ao olhar para o exterior, não ficar deprimido quão deprimente está o clima!

Mais um trago na caneca de chá de limão, refira-se o único de sabor que consigo suportar, bem, esquecia a típica e tão nossa cidreira, as duas "ervas" que o meu corpo e palato conseguem suportar quando ingredientes da bebida que os ingleses tomam às cinco...

Mas, o que me faz escrever foi o momento único, enquanto esperava uma refeição e me ocorreu sacar uma fotografia, de uma fachada branca. Num daqueles momentos de solidão em que, mesmo estando absorto e plenamente imiscuído em, e, por tudo aquilo que civil e geograficamente me rodeia, me sinto também só e distraído com os meus pensamentos. Só, no meu pequeno mundo que é Lanheses, e aquela fachada branca!

Apercebo-me ao escrever, o quanto sinto falta em escrever na terceira pessoa do singular...




Aquela branca fachada
debruada a granito
no interior, odor a carne assada,
batatas, arroz vinho e cabrito.

Aquela branca fachada
com portas para a rua,
quantas almas numa vida desfilada
de vaidades despida, nua!

Aquela branca fachada
que dali me mira
e eu daqui a miro à desgarrada

Ambos, numa refrega desenfreada,
enquanto neste meu pequeno mundo, gira,
pensando, a minha cabeça atordoada!


(do autor Sérgio Moreira)




Como conversador que sou, adoro conversar, apreciei deveras o momento de conversa com alguém naquele interior e retenho a frase que disse a essa pessoa:

 - Hoje estamos, amanhã não estamos! A vida é isto...




sábado, 3 de novembro de 2018

Maria Guinot - Desaparece um ícone da minha infância!


Maria Guinot - Silêncio e Tanta Gente.



Tinha os meus nove ou dez anos de idade, tudo depende se o festival se realizou antes ou após o dia nove de Setembro, quando Maria Guinot me fez acordar pelas primeiras vezes para o profundo e delicioso mundo da poesia. Já tinha na escola primária passado umas quantas vagas vistas de olhos pelas poesias de uns fulanos com nomes esquisitos como Bocage, Camões ou Pessoa e Ary dos Santos, mas, foi com este poema magistral que no ido ano de 1984 nos representou como país no então Festival Eurovisão da Canção, que despertei para a poesia!

Enquanto eu e a minha irmã, sentados na gigante e vetusta mesa de madeira da varanda por onde passaram centenas de cotovelos de membros das várias gerações da família, realizávamos as tarefas que trazíamos da escola, lembro-me perfeitamente como se hoje fosse (saudade), a minha mãe com os seus longos cabelos castanhos passando a roupa a ferro ouvindo no velhinho rádio SANYO esta composição, quando a rádio a passava, toda ela da autoria de Maria Guinot e trauteava este mesmo tema cuja letra e palavras me incutiam uma confusão tremenda e me despertavam curiosidade: como seria possível alguém ser um sim alegre ou um triste não! Como saber se o amor estava no olhar, e o que era o amor? A curiosidade em descobrir respostas para as mais variadas questões restou até hoje...

Acordei aí (sem o saber) para a metáfora, até que uma vizinha mais expedita nas matérias da poesia, a "Méninha", me fez entender este e outros poemas e o tremendo significado da palavra metáfora!

Como hoje em dia ainda venero Maria Guinot!

Trinta e quatro anos passados de todas estas descobertas, todo este aprender, venho a saber pelos blocos informativos que Maria Guinot faleceu, afastada dos palcos e da ribalta das luzes, um daqueles raríssimos seres que mais que muitos outros seres que por aí pululam deveria estar sempre e sempre nos píncaros da mesma ribalta e das luzes da cultura nacional!

Resta-me fazer-lhe justiça, a justiça que muitos lhe negaram, partilhar este tema musical e este poema magnífico, entoado na sua voz potente e única, deixando-lhe aqui escrito um profundo e reconhecido:


Obrigado por tudo Maria Guinot!



A CARLA MARCIANA - TREMENDO EXEMPLO DE CARÁCTER.

Cruzamo-nos algumas quantas vezes na rua, normalmente na Feira, onde nestes últimos anos a via amiúde, ora pela orla das tílias que ocorrem no largo, ora junto à fachada do estabelecimento comercial propriedade dos seus progenitores, no entanto, sem nunca termos trocado um bom dia, um boa tarde, ou qualquer outro género de cumprimento que se aprouvesse ao momento.

Pesem embora estes factos na construção mental e idealizada que fazemos acerca dos outros seres que como nós circulam pelas ruas da vida, sentia, nestes últimos tempos uma admiração não enorme, mas forte o suficiente por essa mulher, que me merecem estas linhas escritas aqui no blogue. 

Acompanhada sempre, e sempre que a via, pelos seus filhos, sabedor eu, do muito que comentavam acerca da Carla e do seu preocupante estado de saúde, ainda mais admirador me tornei da tremenda coragem daquela mulher de cabelos curtos que sorria a cada brincadeira dos seus petizes no areal dos canteiros da Feira.

Hoje, sabedor que sou do infortúnio que lhe chegou fisicamente, ainda mais a admiro e com empatia; empatia caso o leitor não saiba é a qualidade de se conseguir imiscuir no outro, ter a capacidade de sentir aquilo que o outro sente, ou neste caso, (infelizmente) sentia, ainda mais admiro esta (muito) jovem mulher cuja vida física findou!

E que grande mulher esta! Imagino-lhe as tremendas e traumáticas horas de angústia pelas quais passou, talvez, não lamentando o seu infortúnio, mas lamentando o facto e o saber que partindo de si o sopro da vida, deixará neste cruel mundo dos dias de hoje duas crianças, privada de acompanhar o seu crescimento e só por isso não posso deixar de afirmar, mesmo nunca tendo privado com ela, que grande mulher (!). Que batalhas físicas e psíquicas travou esta jovem, batalhas essas que só mulheres com M bem grande são capazes de enfrentar, nenhum homem o ousaria; que enorme, eloquente e gigantesca força mental esta mulher mostrou ter, ao batalhar num campo viciado, como o é o campo da doença e ter dado a toda a população, amigos, familiares e conhecidos (como eu), um exemplo único e ímpar de obstinação e de um tremendo carácter! Entregou-se à luta como ninguém...

Só por isso, mesmo sem a conhecer pessoalmente, lhe presto uma última homenagem, com estas linhas escritas porque a Carla Marciana, com o seu tremendo exemplo em ser possuidora de grande carácter, bem as merece!

Deixo um voto muito sincero de condolências a toda a família da Carla Marciana e uma palavra de incentivo, nestas terríveis horas de dor, para com os seus pais, avós, que pais uma vez mais serão, no acompanhamento do normal decorrer da vida dos filhos da Carla, seus netos, que por certo o sei pelo que vou sabendo e vendo também, serão pilar fundamental nas suas vidas acompanhadas sempre pelo tio e por um pai presente. 
À amiga Zélia (prima da Carla Marciana) por especial sentimento de amizade, deixo aqui escrito um cumprimento especial em mais uma dolorosa etapa da sua vida!

O tal largo que tantas e tantas vezes tem uma tonalidade pintada pelos tons da alegria, mesmo que a alegria não possa ser passível de ser definida em tons, tem por estes dias uma tonalidade triste, sombria, acinzentada, falta ali o sorriso da Carla Marciana...





Sentidas Condolências.

Sérgio Moreira